Não, não tentarei dizer se uma dieta onívora é melhor ou não que uma dieta vegetariana. Acho proselitismo, de qualquer gênero, um saco. Creio que o tipo de dieta que uma pessoa escolhe é uma opção pessoal, e mesmo entre os vegetarianos, as motivações para a restrição de carne (ou de qualquer produto animal) varia de indivíduo para indivíduo: de saúde, ecológicas ou de tratamento em relação a animais. Não se trata de mais um texto sobre a questão vegetarianos versus onívoros. Na verdade, esse texto é mais um pedido (ou uma sugestão).
Vai ser vegetariano? Ótimo. Mas não fique na mesmisse. Outro dia fui à casa de uma amiga vegetariana com alguns radicchios (ou devo escrever radicchi) e bok chois. E simplesmente ela não conhecia nenhum dos dois. Perguntei que hortaliças ela come. Disse que basicamente alface e tomate. E ela não é a única. Outra amiga minha admitiu no Twitter que seus pratos era da uma “monocromia triste”. Assim não dá. Tem que variar mais. Grãos, leguminosas, hortaliças, frutas, cogumelos, enfim, existe uma variedade enorme de vegetais e fungos por aí. Vá pesquisar, vá procurar coisas na feira. Experimente de tudo. E de vez em quando compre alguma coisa sem saber o nome ou como usá-lo. Tente descobrir isso depois.
E os industrializados? Hoje em dia existe uma série de produtos para vegetarianos, principalmente veganos, para substituir produtos de origem animal. Mas afinal, são industrializados. Uma vez fiz um pão para uma amiga vegana. Como ela não comia mel, utilizei xarope de glicose. Depois fiquei pensando “como posso ter usado isso?”. Nunca fui fã de algo tão “industrializado” quanto xarope de glicose. É um dos adoçantes mais processados que existe (talvez não ganhe do xarope de milho com alto teor de frutose – HFCS). Isso sem contar a infinidade de produtos derivados da soja que existe por aí: leite de soja, proteína de soja texturizada, nuggets de soja e assim por diante. E o duro é que nem sei como é feito a maioria desses produtos. Todos eles são usados como substitutos.
Melhor que substituir talvez seja criar ou experimentar pratos novos, com ingredientes novos. A cozinha vegetariana budista (zhāicài nos países que falam mandarim, shōjin ryōri no zen japonês, sachal eumsik na Coréia) não usa derivados de soja para substituir carne ou leite. No lugar disso, os monges budistas simplesmente criaram pratos novos. A cozinha indiana também é prodigiosa no uso de vegetais, busque inspiração nela. Vá usar soja? Ótimo. Mas não não pense nela como um bife, pense na soja como… soja.
Na verdade, esqueça um pouco da proteína de soja texturizada (PST), esse negócio de onde tiraram até o gosto da soja. Use mais produtos naturais como tofu, yuba, miso, leite de soja – os caseiros, não os industrializados, que no fim são apenas água, açucar e conservates. Ou melhor use os grãos de inteiros. Coma mais lentilhas, ervilhas secas, grãos de bico, quinoa (vá na feira da Kantuta, que lá é baratinho), soja (inteira), azuki e é lógico, feijão (todos os tipos).
Mas todos, vegetarianos e onívoros, não deveriam variar a alimentação?Claro, a saúde e o prazer gastronômico vem com pratos coloridos. No entanto, os vegetarianos devem ser mais criativos, principalmente numa sociedade acostumada a comer carne. Os vegetarianos que comem com cabeça de onívoros, geralmente não conseguem uma alimentação equilibrada, apenas tira ou substitui a carne. Poucos se arriscam a criar algo novo. Então usem suas cabeças e comam com mais diversidade.
Ps. Lembra das listas do que já experimentamos? Encontrei essas, vegetarianas, aqui e aqui. Já comi 47 itens na primeira e 44 na segunda. Lógico que tais listas tem uma origem em algum país, e de fato, não leva em consideração diferenças regionais, ou seja, não é algo para quem leva o “eat local” a sério, mas até que fiz uma boa pontuação. E você, amigo vegetariano, será que sua dieta leva uma variedade maior de vegetais que a minha?
Pps. Se você lê japonês, existe esse site com várias receitas do monge Genbo Nishikawa, de Kyoto.